quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

No meio da noite,

 na cama sentada, olhos molhados, lágrimas ameaçando escorrer. Porta e janelas fechadas, um ar abafado que me fazia sentir presa ali. Enjaulada em meu próprio quarto, entre aquelas paredes frias e sem sentimentos, aqueles móveis sem vida, aquele perfume... Sim, eu ainda o sentia.
Lutar contra a saudade era difícil, machucava, doía. Num impulso joguei-me até o velho criado-mudo ao lado direito da cama, e sem perceber estava em pé, fitando-o. Abro a gaveta, encontro ali minha caixinha de lembranças...
Ah, como eu podia ainda guardar aquilo? Abro-a, e lá estava a carta, por cima de tudo. Pego-a, sintindo minhas mãos tremulas. Cambaleio de volta a cama e jogo-me para ela, aturdida. O pequeno abajur estava aceso, não tinha me dado conta disso ainda. Quase nada enxergava, para mim era tudo escuro, tudo vazio, guiava-me por meus sentidos.
Quando me dei conta estava lendo, a carta já amarelada pelo tempo estava borrada, as lágrimas estavam a destruindo.  Então parei, decidida. Seco meu rosto com o braço, levanto, abro a janela, abro a porta. Vou caminhando até sair para fora de casa. 
Eram três da manhã, a rua estava vazia. Com o portão fechado, de meu abrigo observo o silêncio do local. E então vêm todas as lembranças. Caio no chão, imóvel. Fico ali jogada, abandonada em meio aos pensamentos.  A carta ao meu lado parecia gritar-me para que a pegasse mas eu não obedeceria essas ordens. O céu estava lindo, estrelas e mais estrelas. E a lua; lembro-me de quando disse para que a observasse e deixasse que sua luz entrasse por minha alma. Fiz isso naquele momento, adormeci.

Acordei em tal paz sem lembrar-me do ocorrido. Sentia um buraco em meu peito, era a saudade atacando novamente.  Nada havia ao meu lado, apenas meus vasos cheios de lindas flores, naquela manhã com um encanto muito, muito maior. Havia uma vaga sensação de uma voz dizendo adeus, e por mais que parecesse estranho eu sabia que ela era real.
Vou levantando devagar, atordoada com a luz do sol sob meu rosto. Tudo estava de volta a minha mente e então, começo a procurar a carta, desesperada. Não a encontrei. Lembrei-me então das suas ultimas linhas...

E estas são apenas palavras, não durarão para sempre. E quando as borrardes com suas lágrimas de nada mais valerão. Serão elas suas últimas lágrimas, nunca mais chorarás, não por mim. Que o vento me carregue para onde ainda não pude chegar.


Aleeh C.

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