terça-feira, 31 de maio de 2011

Mentira é a Nova Verdade


     Inevitável é uma característica que adequa-se bem a mentira que é tão necessária para o mundo, para as pessoas nas quais tornamo-nos.
     Foi, é e sempre será impossível viver sem mentir. Os seres humanos tem como dom primal a habilidade de alterar a verdade, seja de forma banal ou radical, para se proteger, completar objetivos, por prazer e para diversos outros fins. É incrível como mentimos tão comunalmente, já nem percebemos quando o fazemos por ser tão rotineiro e desventurado, ou às vezes nosso desempenho é tão bom que chega ao ponto de não termos o conhecimento de quando deixou de ser verdade, ou se a mesma algum dia verídica foi.
     O ato de mentir é necessário, útil e prazeroso por assim dizer, pois nos torna mais humanos, contudo com poderes divinos. Dá-nos concessões para mudar estórias, histórias e destinos. Por sermos tão individuais essa característica aumentou, e talvez a mentira nem sempre a tenha sido. Postemo-las como verdades que há muito foram esquecidas e agora são proferidas menos honestamente, pois a humanidade se contém e se retrai das coisas reais que a possam ferir.
     O homem é uma mentira do próprio homem porque seu verdadeiro eu é temeroso. Não somos bravos ou viris, apenas animais assustados que descobriram um dom cujo qual exalta-nos acima de tudo e de todos. É como uma droga que se enraíza nas entranhas de um viciado de uma forma muito profunda, impossível de largar, necessária. Mentir para viver já é nossa maior verdade há tempos.
 DLuppus

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Anseio liberdade

Um dia estarei lá
Onde ao longe vejo o sol se por
Vagarei por entre as flores
Deixarei a elas toda essa dor


Do ferimento sangue escorre
Vejo-me como o céu avermelhado
De que adianta essa vida
Se não me desapegares do passado?
O peito sofre em brasas
O corpo pede piedade
O ar torna-se pesado
Vejo mais perto a liberdade
A força interior aflora
É essa a verdade
Estou chegando até a flor
Daqui não levarei saudade.


Aleeh C.

sábado, 14 de maio de 2011

O Enterro


      Nem ao menos sei onde me encontro ou assim penso. A qual sensação horrível estou cedendo? Minha boca em plena secura vigora. A saliva já não mais circula e meus olhos em semelhante situação agonizam em ardência, cegos pela luz, porém se acostumando. AH! Músculos que doem, gritam em prol do movimento. Eis que meu peito se mancha de extrema angústia, parece que um grande pedaço de minh’alma fora queimada em brasas e logo depois estirado por pequenas pinças de aço. Sinto falta dos meus sentidos. O QUE ME ACONTECE?
     A sala de porte médio era composta de um branco e preto que guerreiam entre si pelo contraste, o branco com o mármore impecável como a neve, frio igualmente, um fúnebre glacial e cortante. O negro do piso refletido pelo teto arqueado e cheio de pinturas sombrias. Os seres de preto estão tristes. Cochichos circundam o ambiente, as rosas nos vasos fazem seus lamentos assim como as lágrimas que empoçam o chão, tristes e mais salgadas que nunca.
     Não me importo com nada disto, o que resta de mim não é do teu entendimento ou algo que eu possa falar sobre, o que tens que saber é que somente existe lá no fundo. Sinto de tudo um pouco de raiva. Às vezes tão perfeito, outras, tão podre. Tenho vontade de chorar, contudo as gotas inexistem para mim. Quero refletir e mudar o rumo dos pensamentos só que minha concentração se perde em meio à merda das hipóteses que formulo quatro vezes a cada segundo. Entenda que crises pessoais nunca foram o meu forte, mas eu sempre soube sair delas mais forte do que quando entrei.
     Posto me a andar pela extensão de sala, passo-por-passo, cada qual deles levando a imensidões de ideias outras imensidões de sentimentos. Ecoam ao percorrer. Que torturante dor esta que vara-me, pois nem ei de saber d’onde vem ou o que há de trazê-la agora. Mouco me encontro no morrer da caminhada, estacado atrás dos seres de preto que tanto se despedaçam em desgosto, no entanto abrem suas alas para um rei/morto renascido.
     Pés de ouro cintilante sustentam um caixão de fina madeira, este que chegais a ofuscar o verdadeiro propósito daquele místico momento. Deuses acorram o coração pulsante, já esquecido do manto sombrio outrora usado, pois o corpo que antes lhe pertencia jaz em profunda serenidade sobre a caixa de madeira fina.
     Soube então que havia morrido quem eu fora no passado, soube demasiado tarde que os seres de preto choravam por um cadáver inútil, que as rosas derramavam seu aroma fúnebre sobre aquele local tão perverso, cujos demônios e anjos lutavam com destreza por novos seguidores assim como as cores tentavam tomar o curto espaço uma das outras.
     Um suspiro afobado surge em meio aos zéfiros perambulantes do campo, contornando o colossal carvalho e voltando a esbarrar em meu corpo/seu dono. Pulso sanguíneo que lateja sem parar, querendo correr ou lutar? Sinto no âmago que nenhum, apenas resvala aliviado a sensação de um novo ar. Sonhos travessos que tratam de assustar o moleque rebelde que um dia já fui, sonhos travessos que de susto matam o homem que sou. Prometo, no entanto, que irei por um fim nesta agonia despejando no mundo um pouco de alegria, se é isto teu desejo, coração, então guie-me para a felicidade.
 ~~~~~~~||~~~~~~~


Notas do Autor: Olá leitores, aqui farei uma breve explicação deste maldito texto (rsrs). Sim. Maldito porque me custara várias semanas. Consegui transformar o sentimento de angústia, de ter “chegado ao fundo do poço”, mas para isso precisei escrever sempre quando estava com essa sensação. Penso que consegui o meu propósito, então vamos às explicações”.
     1° Parágrafo: Você sabe onde está, mas nem se importa mais com isso (que se f*da o mundo), no começo é tudo dolorido, mas com o tempo se acostuma à dor. Seus músculos querem se exercitar e correr pra um lugar bem longe de todos, mas é claro que você não faz e assim partes vão se perdendo, deixando-o distraído e sem sentidos.
     2° Parágrafo: Esta sala é como se fosse teu interior em guerra, o preto e o branco refletem oposição. Os seres de preto fazem uma analogia às pessoas que ficam em volta de ti sentindo pena e mais pena.
     3° Parágrafo: Seus amigos começam a te perguntar o que está acontecendo, porém você diz sempre “não sei”. Nesses momentos as coisas são inusitadas, perfeitas, podres, perfeitas, podres e sempre que tu tentas sair desse rumo acaba desistindo, pois a tristeza é grande.
     4° Parágrafo: Você segue cada vez mais profundamente para a depressão, tendo como companheira apenas a dor da solidão da qual nem sabe mais a origem. Tu passas pelos teus companheiros como um morto, mas eles entendem e já não tentam mais ajuda-lo.
     5° Parágrafo: Quando vê o que se tornou, o que está fazendo, começa a pedir ajuda para todos.
     6° Parágrafo: Quando entende que o seu eu antigo morreu e um novo deve renascer, julga os amigos certos, entendem que eles estavam querendo seu bem e que você vai recomeçar.
     7° Parágrafo: Quando tudo passa não lembram mais que um sonho distante, uma lembrança fraca na sua cabeça, porém a experiência para evitar que isso aconteça a outras pessoas está lá.
  
"Espero que gostem, meus cumprimentos..
 DLuppus





segunda-feira, 2 de maio de 2011

Apenas uma certeza

Os primeiros raios de sol entravam pela janela entreaberta, iluminando o pequeno quarto juntamente de uma leve brisa que balançava a cortina de um bege amargurado trazendo consigo o perfume das flores do jardim, chegando até a cama e fazendo-me sentir uma branda sensação de frio. Procurei pela manta vermelha que devia estar sob meu corpo; tateando pelo colchão encontrei em seu lugar algo tão macio, tão suave, tão quente. Mantendo o toque leve, deixei que minha mão percorresse por toda aquela maciez fascinante encontrando por fim aqueles sedosos cabelos castanhos. Tendo-os emaranhados em minhas mãos abri meus olhos, virando-me para enxergar o rosto tão belo que ao mesmo tempo virava-se para mim e se punha a fitar meus olhos.
Oh aqueles olhos profundo e intensos. Moldou-se um belo sorriso naqueles lábios sedutores, imediatamente retribuído. Minha lama perdeu-se na melhor sensação de prazer que conheço, colocando-me em estado de êxtase, delírios prendendo meus pensamentos em ilusões. Acordada pelo toque daquelas mãos quentes volto ao presente, ao encontro daquele olhar perfurante que chega até minha alma. Deixei-me tomar pelo sentimento que vinha explodindo por meus olhos, escorreram as salgadas lágrimas pelo me rosto... Os dedos impacientes enxugaram-no suavemente, sem deixar fugir os olhos dos meus.
Os braços fortes puxaram-me para um abraço quente e gentil, suprindo todas as necessidades que eu tinha naquele momento. Tudo o que mais precisava estava a envolver-me firmemente. Eu não queria sair dali, não podia sequer imaginar isso. A dor viria atormentar quando o espaço entre nossos corpos não estivesse preenchido totalmente e eu não queria adiantar esse sofrimento.
A angústia chegou até a porta do quarto, devorou-me inteiramente... Era horrível apenas pensar na falta daquele calor, incrível como fazia-me angustiar tanto assim. Era pior ainda lembrar-me que este era apenas um pensamento e que na hora da real distância seria torturada pela toda poderosa angústia e suas inseparáveis amigas saudade e solidão.
Fixei-me naqueles braços que me envolviam e livrei-me tão rapidamente daqueles pensamentos quanto eles apareceram. Olhei novamente naqueles olhos, percebi-os cautelosos, protetores e certos, como se soubessem dos meus pensamentos anteriores e quisesse afastá-los de mim. Senti o abraço tão cheio de sentimentos e entendi o porquê ficava tão aflita sem tudo aquilo. Era simples, como poderia viver com se esses braços apertando-me contra aquele corpo, como poderia imaginá-lo em lugares que desconheço, longe de mim? Cheguei rápido a resposta, não havia outra conclusão a não ser essa. Ele é parte de mim.
Precisava levantar-me da cama, havia tanto a fazer. Não estava fácil, não era fácil. Não vou quero perder essa proteção, não quero perder esse calor, não quero... Volto o olhar para a janela, observo a cortina balançando-se lentamente, sinto o perfume das flores do jardim, a brisa refrescando o ambiente, aquela presença maravilhosa. Tudo estava perfeito. O desejo de nunca mais sair daqueles braços chegou, dessa vez mais forte do que nunca. E então cedi a esse desejo. Fechei os olhos novamente e deixei que minha mente fosse encontrá-lo nos meus sonhos, tinha certeza de que lá essa presença também era certa. E certeza era tudo o que eu tinha...

Aleeh C.