sábado, 12 de março de 2011

A praça.


     Há muito tempo atrás havia um garotinho que andava sempre cabisbaixo por tantos lugares quanto podia, ele não demonstrava emoções ou se dava as súplicas, apenas andava. Certo dia ensolarado em uma grande praça da cidade o garoto se pôs a andar como sempre, as pessoas se divertiam e quando ele passava perto, elas sentiam pena, mas ainda assim se afastavam.
     Um velhinho que ali se encontrava todos os dias observou aquele garoto, incrédulo de como parecia tão triste. Curioso, o velho chamou o garoto num breve aceno e perguntou:
       — Porque está tão triste jovenzinho?
     O menino apenas o olhou por um longo tempo e depois começou a andar.
     Esta cena esquisita se repetiu por um ano inteiro, todos os dias e na mesma hora até que houve um certo tempo no qual o velhinho parou de aparecer. O garoto nunca parou de frequentar a praça, somente se sentava no local em que seu companheiro havia estado e olhava as pessoas.

Após certo tempo...

     ... O vento forte acompanhava a tempestade que abatia qualquer chance de visão da praça, porém ali o menino se encontrava.
       — Acho que não devia estar neste pandemônio, jovenzinho. — Falou uma voz arrastada, fraca.
     O doce velhinho estava de pé perto do banquinho, uma camisola de hospital, sua pele estava flácida e pálida. O menininho apenas o olhava enquanto ele se punha a sentar.
       — Sabe, eu cometi muitos erros na minha vida, porém a cada um deles eu cresci. Lutei guerras com armas, outras internas contra os vícios demoníacos do homem, mas lutei. — A voz se perdia naquele turbilhão de ventos, contudo o velho continuava. — No amor eu nunca fui memorável, todavia eu soube amar uma mulher. Na amizade eu jamais fui o melhor amigo, mas sempre fui leal aos que me foram. A vida eu nunca soube viver, porém não me arrendo de nada que fiz.
     O garoto apenas escutava o que ele dizia naquele vendaval infernal.
       — Porque então se arrisca para vir até aqui? — Disse o menino.
       — Creio que posso solucionar uma última dúvida antes de esses remédios perderem o efeito e me deixarem ir embora. — E com um arquejo ele se pôs a perguntar. — Porque está tão triste, jovenzinho?
       — Eu jamais serei tão bom ou feliz como as outras pessoas.
       — Ora, não precisa ser o melhor em nada, apenas faça o melhor que conseguir e assim atingirá a felicidade que deseja. — O velho se levantou devagar. — Viva a vida sem arrependimentos e será recompensado, filho. Somente viva sem olhar para trás e com lealdade.
     Ele saiu pulando baixo e cantando por todo aquele vendaval até o fim da praça, onde se sentou perto de uma árvore e fechou os olhos enquanto o garoto cabisbaixo abria um sorriso em muito tempo e seguia para viver a vida como em certa vez alguém lhe falou.

"Então, você! Porque está tão triste?"

 DLuppus

domingo, 6 de março de 2011

Poucas Horas


“Uma sensação de calor, meu corpo tende a se implodir todas as vezes que você me envolve com esses braços carinhosos.”

A apoteose de cores acima me diz que mais uma vez dormi na cobertura do prédio, minhas costas doem um pouco pela má posição em que me comporto no momento, mas não se compara a dor terrível que é ter uma pessoa especial longe. Não quero me levantar porque se me mover receberei uma carga imensa de informações, por hora apenas desejo permanecer aqui junto de meus pensamentos e da funesta saudade.

“Perco-me em teus olhos, deliro em sua pele macia, ouço melodias de tua voz segundo a segundo.”

A tarde se vai devagar como as areias de amarelo metal, a noite celeste traz a lua para me banhar com sua luz. Os barulhos alheios nada mais são que um pano de fundo, assim como este corpo em que estou, pois minha mente vaga ao longe em outros tempos, momentos felizes em que passei com você.

“O cheiro suave dos cabelos, emanando para mim como uma canção de sereia que tende a me convidar.”

As bordas de meus olhos começam a se encher d’água, o peito se aperta em angústia, sobe um nó em minha garganta. A que sofrimento cruel terei que me submeter tanto senão ao amor? No fim de tudo eu tenho minha resposta. Nunca a ter tido seria como ter asas e não poder sentir o vento.

“A face tão feliz, aquele sorriso que faz o relógio parar de ticktackear para mim e incendeia minha alma.”

Quantas vezes senti seu cheiro no ar aberto? É como se eu tivesse sua presença, cuidando de mim a cada minuto. Não posso mesmo ir para onde você foi? Sei que não devo, mas meu corpo já não consegue viver sem ti, o que me segura aqui são as memórias. Tenho medo de perdê-las e ter uma existência onde não há nenhum “nós”.

“Meu mundo morre toda vez que nossos lábios colidem.”

— Porque fizeram isso? Eu amava aquela pessoa mais que qualquer coisa, é por isso? PORQUE A TIRARAM DE MIM? — Um grito ecoa para o nada, palavras esbravejadas.

Penso em como a amo ainda, nenhuma alma no mundo será capaz de substituir o que vivemos contíguos. Não tenho a pretensão de continuar. Me levanto do chão cinzento e sigo para a borda do prédio, esperando que você apareça e me tire dali com um puxão para o aconchego teu.

“Seu aroma perpassa pelo negro do tecido de minha roupa, tão afetuoso e doce.”

O chão não é tão frio mesmo quando estou descalço, com as pontinhas dos dedos apontadas para aquela imensidão de concreto que nos separa, mas não por muito mais tempo. Um último pulo para o infinito, o caminho que me leva aquela pessoa especial, estou percorrendo-o a uma velocidade sem igual.

“Sem saber eu sempre corri para você, insanamente eu percorri um longo caminho para descobrir uma felicidade que me confortaria tanto.”

Sabe aquelas coisas que as pessoas dizem sobre ter a vida passando diante de seus olhos momentos antes da morte? Descobri que é uma grande mentira!

O vento suave perpassa pela minha face, a única coisa que tenho em mente é sua imagem, nada mais importa. Os sorrisos que nunca foram dados, as palavras nunca ditas poderão ser realizados quando eu chegar.

“O tempo foi tão injusto conosco, infinitas lembranças.. Poucas Horas..”

 DLuppus

quarta-feira, 2 de março de 2011

Alento das Lágrimas


Talvez, ter um propósito já não seja algo que me importe. Saber o futuro quando se tem sempre a mesma rotina não é interessante, mas nada justifica minhas ações e eu ser tão inflexível em nunca lhe ver com a devida atenção.
Uma simples brisa. É como defino tudo o que vivemos, mesmo agora no arrependimento de estar sozinho eu não vou dar o braço torcer, não vou lhe entregar meus sonhos, não irei mostra a ti meus segredos, eu simplesmente quero outra estória.
Afinal o que fomos nós? Porque pensando assim eu ainda consigo amá-la? Seria a raiva? Estou tentando amenizar o abandono que sofri? Mentindo pra mim mesmo? Isso, estou contando mentiras a mim, pena que sou péssimo nisto.
Se eu me confessar, acreditar na minha verdade isso irá passar? Talvez eu possa tê-la de volta. Não! Duvido muito que aconteça. Queria que visse o que fez a mim. Espera. E o que eu fiz a você?
Crueldade. Foi calculista de minha parte ter feito o que fiz contigo, mas já passou, acho até que fiz menos do que merecia. Não aguento mais mentir pra mim mesmo, é sempre assim. Porque eu não admito?
Estou chorando neste canto tão escuro do mundinho que criei, lamentando o que fiz, o que ainda vou sofrer e guerreando contra as mentiras. Queria ter algumas lembranças puras de você, vou lutar contra as ondas de raiva que querem sujá-las, indefinidamente.
Se puder me dê uma mão, ou palavras de afeto. Seja o que nunca irei ser, leal e bom amante, tenha compaixão por mim que sou mais uma alma podre dentre tantas boas. Espero que tenha uma lembrança boa de nós, que não se esqueça de como eu já fui.
A resposta é que não basta admitir a verdade para meu próprio eu, terei que fazer mais que isso. Afinal não existe progresso sem dor. Por enquanto um “Eu te Amo” basta.

“Pelo Rubro entardecer jurei coragem, pela Lua cheia; Sabedoria, e por mim, jurei nunca mais te ter em meus braços.”

 D Luppus

terça-feira, 1 de março de 2011

Perdoe-me


 se não fui capaz de dar tudo o que você pediu.
Meus ossos doem tanto.” Caído nessa ravina profunda, de cores tristes e imensos paredões, úmidos, como se chorassem por mim.
Pena. Já não necessito desse tipo de sentimento. Parem.” O céu fluía brilhante e azul ao longe, a tal distância que nunca pude alcançá-lo.
Nem por você.” Pensei comigo. Eu jazia numa posição estranha, o corpo retorcido nas pedras, perfurado quando cai, meus braços devem ser a única coisa aqui que podem fazer um moribundo movimento, além das gotas saturadas de tristeza que caem dos paredões indefinidamente.
O que isso importa agora? O erro foi nosso, a culpa sua e a burrice minha.” À que ponto cheguei? Quebrando todas as minhas regras num mísero dia. Eu era frio, nunca me submeteria ao suicídio por alguém. Tinha paz ao contrário do atual momento no qual minha alma ferve de amor e ódio por ti, onde meu coração se sente triste por tudo não acabar logo e ao mesmo tempo feliz por saber que vai terminar.
Aquiesci-me e fechei os olhos, as lembranças começaram a vir como lâminas.
Porque não me deixa quieto nem em minha morte? Irá para sempre me infernizar?
Uma pequena ilhota tropical na qual possuo uma cabana de madeira, onde, quando criança me escondia de todos os problemas. “Como se estivesse longe desse tempo.” Lembro-me que costumava esconder-me de meus pais, mas esse não era mais o propósito dela. O tempo ali era esquisito, mudava às vezes.
Neve. Meus pais. Queria poder vê-los antes de ir.” O filme continuou dentro de minha cabeça.
Madeira crepitando no fogo da lareira, o ambiente na cabana é quente, mas não por isso. “O que seria? Não me lembro.” Mãos delicadas, alguém me abraça. Cabelos sedosos e encaracolados desciam pelo rosto inocente até chegar aos ombros, aquele olhar marcante me fitando. O corpo nu, de um branco escultural, se encaixa em mim, o toque carnal era excitante, mais que isso, continha a vermelha paixão. Ela se aproxima, os lábios de um gosto doce tocam os meus, retribui cordialmente, os corpos se apertaram, tornando-se apenas um. Tudo pulsou intensamente como o hiperativo fogo.
O cheiro da água inundou minhas narinas, demorou um tempo até perceber que eu tentava gritar, porém não saia som algum, os pulmões já eram. Ela ainda me atormenta com essas lembranças, inesquecíveis perante minha memória.Droga! Porque sou tão fraco agora? Tantos porquês e nenhuma resposta, que deprimente.”
A dor parou, penso que o momento de ir está próximo e talvez eu encontre minha paz novamente. Arquejos altos quebram o som do local, estou tossindo, o sangue jorra de minha boca me fazendo engasgar, sinto dentro de mim os órgãos triturados e perfurados pela queda.
As lágrimas dos paredões se prolongam, ouço lamentos. Meus olhos estagnados, vidrados no céu cinza acima.Quanto tempo se passou naquela lembrança?” Minha face inexpressiva é tocada por algo gelado, uma, duas, três vezes.Gotas?” Sim, está chovendo.Não chore, mereço isto por ter sido tão tolo.”
Está na hora. Quais serão minhas últimas palavras? Tanto faz, suspirei.Perdoe-me por te amar tão intensamente e pela dor que causarei a todos, estarei esperando, um dia você entenderá. Adeus, meu amor.”
Tudo começa a escurecer. Já não sinto medo.Obrigado.” Um sorrisinho bobo brota em minha face infeliz e a morte toma aquilo que um dia viveu.

 D Luppus