terça-feira, 1 de março de 2011

Perdoe-me


 se não fui capaz de dar tudo o que você pediu.
Meus ossos doem tanto.” Caído nessa ravina profunda, de cores tristes e imensos paredões, úmidos, como se chorassem por mim.
Pena. Já não necessito desse tipo de sentimento. Parem.” O céu fluía brilhante e azul ao longe, a tal distância que nunca pude alcançá-lo.
Nem por você.” Pensei comigo. Eu jazia numa posição estranha, o corpo retorcido nas pedras, perfurado quando cai, meus braços devem ser a única coisa aqui que podem fazer um moribundo movimento, além das gotas saturadas de tristeza que caem dos paredões indefinidamente.
O que isso importa agora? O erro foi nosso, a culpa sua e a burrice minha.” À que ponto cheguei? Quebrando todas as minhas regras num mísero dia. Eu era frio, nunca me submeteria ao suicídio por alguém. Tinha paz ao contrário do atual momento no qual minha alma ferve de amor e ódio por ti, onde meu coração se sente triste por tudo não acabar logo e ao mesmo tempo feliz por saber que vai terminar.
Aquiesci-me e fechei os olhos, as lembranças começaram a vir como lâminas.
Porque não me deixa quieto nem em minha morte? Irá para sempre me infernizar?
Uma pequena ilhota tropical na qual possuo uma cabana de madeira, onde, quando criança me escondia de todos os problemas. “Como se estivesse longe desse tempo.” Lembro-me que costumava esconder-me de meus pais, mas esse não era mais o propósito dela. O tempo ali era esquisito, mudava às vezes.
Neve. Meus pais. Queria poder vê-los antes de ir.” O filme continuou dentro de minha cabeça.
Madeira crepitando no fogo da lareira, o ambiente na cabana é quente, mas não por isso. “O que seria? Não me lembro.” Mãos delicadas, alguém me abraça. Cabelos sedosos e encaracolados desciam pelo rosto inocente até chegar aos ombros, aquele olhar marcante me fitando. O corpo nu, de um branco escultural, se encaixa em mim, o toque carnal era excitante, mais que isso, continha a vermelha paixão. Ela se aproxima, os lábios de um gosto doce tocam os meus, retribui cordialmente, os corpos se apertaram, tornando-se apenas um. Tudo pulsou intensamente como o hiperativo fogo.
O cheiro da água inundou minhas narinas, demorou um tempo até perceber que eu tentava gritar, porém não saia som algum, os pulmões já eram. Ela ainda me atormenta com essas lembranças, inesquecíveis perante minha memória.Droga! Porque sou tão fraco agora? Tantos porquês e nenhuma resposta, que deprimente.”
A dor parou, penso que o momento de ir está próximo e talvez eu encontre minha paz novamente. Arquejos altos quebram o som do local, estou tossindo, o sangue jorra de minha boca me fazendo engasgar, sinto dentro de mim os órgãos triturados e perfurados pela queda.
As lágrimas dos paredões se prolongam, ouço lamentos. Meus olhos estagnados, vidrados no céu cinza acima.Quanto tempo se passou naquela lembrança?” Minha face inexpressiva é tocada por algo gelado, uma, duas, três vezes.Gotas?” Sim, está chovendo.Não chore, mereço isto por ter sido tão tolo.”
Está na hora. Quais serão minhas últimas palavras? Tanto faz, suspirei.Perdoe-me por te amar tão intensamente e pela dor que causarei a todos, estarei esperando, um dia você entenderá. Adeus, meu amor.”
Tudo começa a escurecer. Já não sinto medo.Obrigado.” Um sorrisinho bobo brota em minha face infeliz e a morte toma aquilo que um dia viveu.

 D Luppus

2 comentários:

  1. O que posso dizer? Simplesmente impecável no uso de suas palavras, seus sentimentos sempre bem expressos...meus parabéns!
    ^^

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