segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meus segundos, meus minutos, minhas horas ...


Quero controlar o tempo, fazer dele meu escravo. Comandá-lo, submetê-lo as minhas vontades. Pará-lo por alguns momentos, voltá-lo para outros. Ter chances de concertar os erros, apagar o que já foi feito, alterar o errado, encontrar o perdido, terminar o inacabado, iniciar o não começado.
Com seu controle tudo seria mais fácil. Não sou a única a desejar isso, tenho certeza. Aposto que todos tem esse mesmo pensamento, com os mesmos impulsos em comum: tornar as coisas mais fáceis e resolvíveis de maneira indolor e eternizar segundos, principalmente.
Pararia meu relógio... Sem nenhuma exatidão, nenhum tick-tack , sem nada, nada mesmo para me preocupar. Nos braços dele me perder sem contar os segundos, sem pensar no fim daquilo. Somente aproveitar o momento, abandonar todos os pensamentos e entregar minha alma a ele. Deixar os minutos congelados para que sejam minha eterna lembrança, a mais aconchegante e calorosa, a mais viva e real.
Poderia ali adormecer para sempre, presa aos braços dele, repousada em seu corpo quente, tocando seus cabelos macios, sentindo seu adorável cheiro, fascinado-me com sua existência. E quando ali me fizesse jazer eternamente, meu relógio poderia voltar a funcionar.



Aleeh C.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eterna obsessão


Movida por um impulso maldito eu o tinha atacado, com um objeto pontiagudo que nem mais sabia de onde o tinha pegado.  Ele levou suas mãos ao ferimento, cambaleou, soltou um grito ensurdecedor e caiu. Seu corpo pesado fez um estrondo quando chegou ao chão, sua cabeça ficou apoiada sobre o sofá branco agora manchado por seu sangue. Ele me lançara um olhar, o qual eu sabia que era o último. Este perfurou meu corpo e chegou até minha alma. Senti seu apelo, seu pedido de ajuda, de perdão, seu sentimento, sua agonia.  Só então me dei conta do acontecido. Suas mãos caíram no chão, seus olhos se fecharam.
As lágrimas molhavam meu rosto. Eu estava atordoada, não entendia como tivera coragem para tal feito. Eu não o podia deixar ir embora, ele era meu, só meu, minha única e eterna obsessão. Não poderia ser de mais ninguém, não iria deixá-lo me abandonar nunca.
Eu matei meu príncipe encantado.  Agora tentava fugir dos meus pensamentos. Via-o ali jogado ao chão, imóvel. O sangue escorrendo ao seu lado, eu sentia seu calor se perdendo seu cheiro tornando-se outro, sua pele perdendo aquela cor intensa que eu tanto adorava.
Olhei novamente para o cadáver. Como era terrível ver aquilo. O que eu havia feito? Como pude? Minha obsessão era tão grande que me fizera chegar a esse ponto? Por que, por quê? Eu não o poderia deixar sozinho ali... Na realidade essa era minha solidão, quem iria me proteger agora? Quem me daria os ombros para chorar? Quem me daria o amor que eu tanto precisava? Quem? Quem? Estava aos gritos, não conseguia encontrar respostas.
O mais terrível estava feito. E já tinha encomendado minha morte. Dor não era suficiente, nenhuma guilhotina, forca, fogueira, cadeira elétrica poderia ser o castigo que merecia.
Morte... a idéia mais inteligente, a saída mais correta que me ocorrera naquela hora. Não tinha certeza de que voltaria a vê-lo, mas só podia tentar isso. Talvez conseguisse viver ao seu lado pela eternidade. Ali era seu leito e seria também o meu.
Peguei o telefone, disquei para a única pessoa que me importava além dele, meu melhor e único amigo. Deixei-o cair para fora da mesa, de modo que ficasse pendurado e pudessem ouvir por ele meu último suspiro.
Caminhei até seu lado, deitei-me devagar repousando a cabeça sobre seu peito ferido, como costumava fazer para ouvir seu coração batendo. Não ouvia-o mais, isso era demais para mim. Com uma mão segurei a dele, com a outra golpeei forte meu peito. Acertei em cheio o coração. Veio então o grito... a dor... a visão da porta se abrindo e pessoas correndo em direção a nós... seu rosto... a escuridão... a luz... ele, minha paz.
Foi o fim, seria ali ao lado dele meu jazer eterno.

Aleeh C.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Má Companhia


O sistema está se corrompendo, mudanças já não soam tão fácil para uma sociedade que se sustenta em uma base imutável, porém há uma esperança, ainda existem imperfeições.
Não há ninguém melhor que um erro para falar sobre, conhecer as falhas nos torna mais fortes num meio que nos vê como aberração, anjos maus. Hehe, em certas partes tenho que dizer que estão certos, por menor que seja a quebra na estrutura, esta mesma pode trazer várias rachaduras que mudam de direção constantemente.
Entre decisões fáceis e guerras a noite ainda virá para todos nós, porém lembre-se que pouco antes do anoitecer há farpas de luz. Nós, as imperfeições, seremos as esperanças de um universo perfeito metaforicamente falando, seremos as más companhias.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ei, se levante!


Os choros, os risos? Posso nunca ter visto você passar por isso, mas vivi o suficiente deles para saber como é uma parte disto. Existem dias que simplesmente são tristes em nossas vidas, falta algo que não sabemos o que é, ou talvez conhecemos, mas nossos pensamentos estão desorganizados de uma forma que é impossível se concentrar, por isso digo: EI, SE LEVANTE!
Realmente não se importe quantas vezes as pessoas te traírem, lealdade é algo que poucos entendem atualmente. Quando cair naquele fosso escuro procure pela luz remanescente dos pedaços de sua alma, eles brilharam além do possível e darão a você a força necessária. Quando sair aproveite o mundo além deste, sorria a todo o momento, dance quando puder, conheça seu corpo de maneiras divertidas, tome sol, medite, desenhe, escreva, pule, corra, escale árvores e tudo o que tiver vontade.
Não deixe as pessoas te ridicularizarem, te dizerem que os sonhos não levam a lugar nenhum, porque viver é único e você deve fazer isso da melhor maneira possível, acreditar é a chave, sonhar aleatoriamente é unir o útil ao agradável, por isso sempre faça o que der na “telha”.
“Viver intensamente não é viver errando e sim se descobrindo de novo e de novo.”

 D Luppus

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Laços


Dentre todas as almas que habitam este grande universo, algumas tendem a fazer uma enorme diferença no destino de outra. A amizade é algo além do compreensível, não é para se entender e sim para se viver intensamente.
As palavras um dia já ditas em horas de desespero, os ombros emprestados em tempos de coração quebrado ou os risos concedidos em momentos de alegria serão as lembranças que você terá sobre seus companheiros mais do que importantes. Os laços que formamos com essas pessoas nos tornam mais forte porque aprendemos, ensinamos, compartilhamos ideias, planejamos futuros com elas. Amigos são mais do que posso escrever, mais do que você pode pensar, mas no final de tudo são apenas amigos, eles tem sua própria mágica.
 Assim somos lembrados, não pelo que somos e sim pelo que fizemos em vida, as lendas se constroem a partir de boas amizades. Desejo-lhe meu amigo (a) uma vida próspera como de um rei, suas memórias em mim nunca irão morrer mesmo que o vento leve as cinzas do que um dia já vivemos.

“Esperarei na clareira do fim do caminho os meus amigos, heróis de minha vida, com uma canção onde nossos feitos serão lembrados e onde iremos caminhar solenemente pelo infinito.”

 D Luppus

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O monstro do lago

Por um belo caminho seguia. Pequenos arbustos, grandes árvores, belos pássaros felizes assoviando suas canções, borboletas coloridas embelezado a trilha.
Ela se abrira em uma clareira grande e no centro havia um enorme lago. Ele era lindo, de um azul profundo e audacioso. Parecia desafiar o céu para um duelo. Um duelo realmente espetacular; o céu com suas nuvens e seu azul encantador. O lago com lindos cisnes brancos rondando por ali.
Cheguei então a beira, abaixei-me e comecei a observar. Consegui ver minha imagem retorcida ‘’um monstro’’, pensei. De nada adiantava ver a reflexão de meu rosto, dito belo pelos outros, se eu, somente eu sabia o que havia por trás dele. Meu estado de espírito era deplorável.
Passei a não enxergá-lo mais, em seu lugar haviam lembranças, pensamentos. Em minha agonia observava com medo aquelas imagens. Eram inquietantes, não me deixavam em paz. Podia ver nelas a podridão de minha alma, sentia o fedor dela.
A beleza do lugar se perdeu e tudo se tornou horripilante, o belo bosque tornara-se um nojento pântano, o azul do lago deu lugar a um verde hipnotizante e intenso, chegava quase ao negro. O azul do céu transformara-se em um cinza intimidador. Estava ali, o retrato de minha alma, perdida na escuridão.
A cortina caíra e a beleza que antes estava diante os meus olhos se fora. O escudo que me protegia dessa visão partiu-se e deu espaço para essa nova realidade que tomou forma de um monstro, o meu mostro.
Derrotá-lo e recuperar a beleza do lugar seria meu novo desafio. Encontrar uma luz, um firmamento, uma realidade menos cruel. Mas para isso precisava de uma razão para lutar. Já a tinha na verdade, afinal porque iria querer viver numa realidade maldita como aquela? Mas isso não me bastava, precisava de mais, aquilo não era o suficiente para mim. Não encontrava sentido em lutar contra aquilo sem ter depois algo pelo que continuar a viver.
Lembrei-me dele... Era ele o culpado por aquele meu estado infeliz. É, eu tinha meu motivo. Uma doce vingança eu desejava. Em meus olhos explodiram as lágrimas, o vermelho tomou conta deles. Vingança, não, isso só me arrastaria ainda mais para a escuridão.
Cheguei à ênfase nessa hora. Esqueceria... Reinventaria minha história, afogaria meu monstro.


Aleeh C.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Incertezas


A luz do prisma daquele CD no criado mudo estava em meus olhos, mas que droga. A única fresta na cortina marrom caqui carregava consigo um pequeno raio de sol, irritante e incomodo. Estava no décimo dia desde que ela se fora, o décimo dia em que um lado da cama não recebia o calor e era principalmente o décimo dia de tantos outros em que eu acordara em lágrimas.
Não possuo mais nada além da minha bem sucedida empresa, afinal nem sei por que ainda não me aposentara, o dinheiro não irá me faltar nunca. A vida é tão igual, todos os dias eu faço as mesmas coisas, todos os dias eu me perco na angustia existente em mim.
A luz do prisma daquele CD no criado mudo estava em meus olhos, mas que droga, eu o esquecera ali novamente. A única fresta na cortina marrom caqui carregava consigo um pequeno raio de sol, irritante e incomodo. Estava no décimo primeiro dia desde que ela se fora, o décimo primeiro dia em que um lado da cama não recebia o calor e era principalmente o décimo primeiro dia de tantos outros em que eu acordara em lágrimas.
Porém hoje será diferente. Lentes? Não preciso delas. Peguei a caixinha de lentes e joguei na privada, comecei a rir, a visão estava embaçada.  Tomei um banho, mas não me enxuguei, vesti uma roupa qualquer e fui para a cozinha. O telefone! Pedi peixe frito. Afinal hoje era um dia meu.
Enquanto o peixe não vinha eu fui à padaria buscar pão para acompanhar o peixe e energético para descer bem. Foi o que fiz, logo após comer segui para a empresa com meu sedam caro. Um barulho estridente e uma dor lancinante me indicaram que eu havia batido em algo, abri a porta e tonto comecei a ir andando para o escritório, não ligando para as pessoas em volta e muito menos para o dono do outro carro.
O escritório não me atraia tanto quanto uma boa caminhada, andei e andei virando em todos os lugares, mas sai fora da cidade, voltando para as retas novamente. Sempre e sempre eu volto, odeio isto. Vaguei por meses e meses sem dormir, esperando a hora certa para começar a andar e procurar por algo que nem eu sabia o que era.
Certo dia eu chegara a uma encruzilhada no meio do nada, no meio havia um pássaro bem colorido e ele gritava palavras de ajuda. Não havia ficado louco, isso não, o pássaro estava falando bem fracamente, estava machucado gravemente.
— Sei da sua estória meu senhor, tentei fazer a mesma coisa, mas no fim eu acabei assim. Volte para o recomeço e me leve junto.
Uma pena colorida caiu de seu corpo e uma leve brisa a soprou até meu pé, assenti com a cabeça que eu iria fazer e o pássaro fechou seus olhos para sempre.
A luz do prisma daquele CD no criado mudo estava em meus olhos, mas que droga. A única fresta na cortina marrom caqui carregava consigo um pequeno raio de sol, irritante e incomodo. A pena sempre do meu lado, era o décimo segundo dia em que eu não acordara em lágrimas.

Nossas certezas nada mais são que pequenos pontos em uma grande malha, você sempre irá mudar e mudar, andar e andar até encontrar seu pássaro colorido.”

 D Luppus

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ao fim de tudo: Palavras

E quando as palavras já não bastam para expressar o que sinto, procuro novas formas, mas não consigo.As palavras são minhas amigas, leais companheiras mas quando escritas. Elas não gostam de ser pronunciadas, preferem esconder-se. Não sei bem o porquê, quando tento dizê-las são limitadas, extremamente escassas e sem sentido. Quando escritas, consigo vagar por milhares delas sem medo de usá-las.
Mas e quando elas á não bastam? Sorrisos, gestos e outras ações... Serão somente essas as saídas? E quando não são possíveis, o que fazer? Buscar novas palavras... Mas onde? Não sei, realmente não sei.
Elas são tantas para serem ditas, tantas... Mas fogem. São míseras quando comparadas ao que tento descrever. Há uma enormidade de palavras perdidas por aí, mas de qualquer modo que as use ainda não é o suficiente para mim.
Dizer que tenho sede dela não é o certo, não é isso o que quero ou procuro. Para mim basta poder expressar de forma que o que disser pereça tão grande e forte quanto é realmente.
E não posso mais, tudo se esgotou agora. E ao fim de tudo, mesmo achando que essas não bastam por hora podem servir: EU TE AMO !


Aleeh C.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Perfeito das Imperfeições


Em algum lugar um relógio está ticktackeando para a nossa história começar a ser escrita, a cada baque do ponteiro meu peito se anseia, eu poderia fazer qualquer coisa por você.
A janela estava quase congelada pelo frio, eu devaneava sentado enquanto te via pelo vidro, não sei quanto tempo se passou desde que saiu. Neste ponto minha alma se tornou tão flexível a ti, a minha sanidade se foi quando sua voz me disse “Adeus”.
Novamente ela começa a cair, fria e imponente como sempre, se estendendo por todo o campo de neve. A chuva deixara a casa silenciosa, apenas o barulho das gotas caindo nas paredes de madeira. O frio começava a me tomar e os pensamentos voam para os minutos que se passaram, sua presença me deixava quente, não me importaria se estivesse no gelo contanto que apenas pudesse segurar sua mão.
Precisamos de um novo parágrafo, quando irá voltar? Peço-lhe um favor, traga de volta as cores dos olhos, sinto falta dos tons seus.
O barulho na madeira já não é mais da chuva, apenas e somente das minhas lágrimas. O relógio parou e você está lá fora ainda, neste imenso campo de branco onde apenas existe uma casinha de madeira, o perfeito das imperfeições.

 D Luppus

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Diários ao Seu Lado Pt.1

Tão vivo me sinto agora, mas em meio a tudo, a morte me espreita tentando trazer de volta o que já lhe pertenceu.
Os lábios se mexem, porém as palavras não saem com tanta inocência como um dia já tiveram, não? Neste momento a confusão que emana do meu coração sombrio se dissipou.
Entre a luz calma e a escuridão profana vaguei por meses, talvez anos, minha memória já não faz jus aquelas lembranças nefastas, andando por uma estrada de vidro onde os cacos tem vida e sussurram para mim os infortúnios por que passei, os cacos do que já foi minha alma.
A tristeza nunca me dominou, mesmo nos meus piores momentos eu não cedi a ela, pois sempre soube que o que a traria seria uma coisa que deixei para trás há muito. Mais uma vez eu estive errado.
Alguém se juntou a mim naquela estrada solitária, eu não a via, pois meus olhos estavam cegos desde o começo, apenas ouvia os passos que dava.  O corpo que há séculos não recebia o calor de braços, foi aconchegado, os olhos deixaram de pertencer a escuridão para serem somente daquela pessoa. Os pensamentos voaram repartidos, aquela autoestrada se quebrou retornando ao que um dia fora meu. O hálito doce despertou o sentimento proibido para aquele coração sombrio, que cedera a deixar o buraco tão profundo quanto o infinito universo se preencher com a vida de suas pulsações novamente.
Ao seu lado desejo presenciar as vinte e quatro horas, ver o rouxinol da manhã passar pelas nuvens alaranjadas do sol nascente, rir das estrelas brincalhonas na noite imensa enquanto as mãos se entrelaçam em um aperto prazeroso. Aqui, quero fazer de teu peito meu eterno repouso, me aninhar em nossos pensamentos e entrar em um mundo cujo quais os segundos passam como anos, num quando onde eu pertencesse a você e você a mim.
Aqui, te abraçarei como se fosse a última vez, deixando meus lábios caírem sobre os seus, que os suspiros restantes possam ser dados na eternidade ao seu lado.

 D Luppus

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

No meio da noite,

 na cama sentada, olhos molhados, lágrimas ameaçando escorrer. Porta e janelas fechadas, um ar abafado que me fazia sentir presa ali. Enjaulada em meu próprio quarto, entre aquelas paredes frias e sem sentimentos, aqueles móveis sem vida, aquele perfume... Sim, eu ainda o sentia.
Lutar contra a saudade era difícil, machucava, doía. Num impulso joguei-me até o velho criado-mudo ao lado direito da cama, e sem perceber estava em pé, fitando-o. Abro a gaveta, encontro ali minha caixinha de lembranças...
Ah, como eu podia ainda guardar aquilo? Abro-a, e lá estava a carta, por cima de tudo. Pego-a, sintindo minhas mãos tremulas. Cambaleio de volta a cama e jogo-me para ela, aturdida. O pequeno abajur estava aceso, não tinha me dado conta disso ainda. Quase nada enxergava, para mim era tudo escuro, tudo vazio, guiava-me por meus sentidos.
Quando me dei conta estava lendo, a carta já amarelada pelo tempo estava borrada, as lágrimas estavam a destruindo.  Então parei, decidida. Seco meu rosto com o braço, levanto, abro a janela, abro a porta. Vou caminhando até sair para fora de casa. 
Eram três da manhã, a rua estava vazia. Com o portão fechado, de meu abrigo observo o silêncio do local. E então vêm todas as lembranças. Caio no chão, imóvel. Fico ali jogada, abandonada em meio aos pensamentos.  A carta ao meu lado parecia gritar-me para que a pegasse mas eu não obedeceria essas ordens. O céu estava lindo, estrelas e mais estrelas. E a lua; lembro-me de quando disse para que a observasse e deixasse que sua luz entrasse por minha alma. Fiz isso naquele momento, adormeci.

Acordei em tal paz sem lembrar-me do ocorrido. Sentia um buraco em meu peito, era a saudade atacando novamente.  Nada havia ao meu lado, apenas meus vasos cheios de lindas flores, naquela manhã com um encanto muito, muito maior. Havia uma vaga sensação de uma voz dizendo adeus, e por mais que parecesse estranho eu sabia que ela era real.
Vou levantando devagar, atordoada com a luz do sol sob meu rosto. Tudo estava de volta a minha mente e então, começo a procurar a carta, desesperada. Não a encontrei. Lembrei-me então das suas ultimas linhas...

E estas são apenas palavras, não durarão para sempre. E quando as borrardes com suas lágrimas de nada mais valerão. Serão elas suas últimas lágrimas, nunca mais chorarás, não por mim. Que o vento me carregue para onde ainda não pude chegar.


Aleeh C.