sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eterna obsessão


Movida por um impulso maldito eu o tinha atacado, com um objeto pontiagudo que nem mais sabia de onde o tinha pegado.  Ele levou suas mãos ao ferimento, cambaleou, soltou um grito ensurdecedor e caiu. Seu corpo pesado fez um estrondo quando chegou ao chão, sua cabeça ficou apoiada sobre o sofá branco agora manchado por seu sangue. Ele me lançara um olhar, o qual eu sabia que era o último. Este perfurou meu corpo e chegou até minha alma. Senti seu apelo, seu pedido de ajuda, de perdão, seu sentimento, sua agonia.  Só então me dei conta do acontecido. Suas mãos caíram no chão, seus olhos se fecharam.
As lágrimas molhavam meu rosto. Eu estava atordoada, não entendia como tivera coragem para tal feito. Eu não o podia deixar ir embora, ele era meu, só meu, minha única e eterna obsessão. Não poderia ser de mais ninguém, não iria deixá-lo me abandonar nunca.
Eu matei meu príncipe encantado.  Agora tentava fugir dos meus pensamentos. Via-o ali jogado ao chão, imóvel. O sangue escorrendo ao seu lado, eu sentia seu calor se perdendo seu cheiro tornando-se outro, sua pele perdendo aquela cor intensa que eu tanto adorava.
Olhei novamente para o cadáver. Como era terrível ver aquilo. O que eu havia feito? Como pude? Minha obsessão era tão grande que me fizera chegar a esse ponto? Por que, por quê? Eu não o poderia deixar sozinho ali... Na realidade essa era minha solidão, quem iria me proteger agora? Quem me daria os ombros para chorar? Quem me daria o amor que eu tanto precisava? Quem? Quem? Estava aos gritos, não conseguia encontrar respostas.
O mais terrível estava feito. E já tinha encomendado minha morte. Dor não era suficiente, nenhuma guilhotina, forca, fogueira, cadeira elétrica poderia ser o castigo que merecia.
Morte... a idéia mais inteligente, a saída mais correta que me ocorrera naquela hora. Não tinha certeza de que voltaria a vê-lo, mas só podia tentar isso. Talvez conseguisse viver ao seu lado pela eternidade. Ali era seu leito e seria também o meu.
Peguei o telefone, disquei para a única pessoa que me importava além dele, meu melhor e único amigo. Deixei-o cair para fora da mesa, de modo que ficasse pendurado e pudessem ouvir por ele meu último suspiro.
Caminhei até seu lado, deitei-me devagar repousando a cabeça sobre seu peito ferido, como costumava fazer para ouvir seu coração batendo. Não ouvia-o mais, isso era demais para mim. Com uma mão segurei a dele, com a outra golpeei forte meu peito. Acertei em cheio o coração. Veio então o grito... a dor... a visão da porta se abrindo e pessoas correndo em direção a nós... seu rosto... a escuridão... a luz... ele, minha paz.
Foi o fim, seria ali ao lado dele meu jazer eterno.

Aleeh C.

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