domingo, 17 de julho de 2011

Acordado: Nova Vida


     Os raios de sol lambem a crista dos altos prédios do centro e recaem sobre o chão esquentando tudo para o meio dia. Pessoas andam e andam atrás de seus objetivos, inúmeros rostos que não me lembro de sequer uma característica após segundos passam. Não tenho um norte para seguir, me sinto sozinho mesmo rodeado de pessoas. É isto? Tudo o que eu tenho é o que estou sendo?

     (Branco).. (passos).. (bater de asas)..

     (Branco).. Tão longe de saber onde estou indo e tentando achar incessantemente quem eu sou. Sonhos incompreendidos resvalam nas paredes de pedra. Aroma de madeira. O ar está morno, porquanto difícil de respirar. Deixo minha visão planar sobre o local, suas paredes de pedra são mais aconchegantes do que realmente transmitem ser. O chão de tábuas, empoeiradas e marcado por dejetos das prováveis pombas que viviam ali, respondia a rangidos os menores movimentos que eu expressava assim destronando o silêncio natural. Um enorme sino dourado e ornamentado com os mais antigos desenhos pairava imóvel no meio da sala e em suas cordas havia um lenço vermelho atado destacando-se na presença dos travessos raios de sol passando pelo vitral que era uma das paredes. Sombras de algarismos romanos e ponteiros davam vida ao grande relógio. Uma torre do relógio? Como eu viera parar aqui? Deste modo espantar-me-ei. Contudo eu já não deveria estar?
      Fim de tarde, hora do crepúsculo, preciso voltar a andar! A exaustão deixara meu corpo no tempo em que eu ficara inerte na torre assim como a fome também fizera suas acomodações para longe, minha única vontade é mover-me, pois sinto que minha jornada possui agora um sentido oculto. Desço a velha escada no interior da torre com a maior rapidez possível e quando chego ao chão percebo que o manto da noite cobriu os céus. Uma visão estonteante estaca-me no chão frio: Uma avenida larga, cheia de prédios banhados pela luz da velha mãe e trazendo consigo suas próprias iluminações artificiais das mais variadas cores. Ali, trafegando no meio da avenida milhares de pessoas a andar, como antes individuais.
     Pouco-a-pouco começo a sentir meus pés querendo se mover para aquele meio. E não aceitar, por quê? Ando arqueado e pensativo vendo os vultos das faces cujos corpos sempre estão a desviar de mim. Os edifícios lançam suas sombras de vários formatos que caem sobre a multidão como garras afiadas de uma pantera, mas a mesma nem nota o menor sinal de algo errado.
     Parece que há tanta liberdade a desfrutar, porém não é para isso que aqui estou. Após percorrer aquele fantasioso mar de pessoas e construções por horas, vejo que os mesmos estão diminuindo. Não, eles estão se deteriorando. O mundo cuja visão tive não passava de uma carcaça podre, prédios colossais outrora divinos agora jaziam em ruinas que seriam logo consumidas por aquele chão se houvesse o menor sinal de impacto. Os zéfiros desprezavam aquele local certamente, pois nada agradável seria passear levantando a poeira dos milhares cadáveres mutilados.

     ONDE ESTOU? FUI AO INFERNO? POIS SE FUI ENTÃO QUE SE CUMPRA MINHA SENTENÇA POR TENTAR ACHAR UM SIGNIFICADO PARA VIVER ACREDITANDO.

     (Branco) .. Borrões vermelhos, dor ..

     — Dói um pouco no início, contudo você deve aproveitar porque vai apenas piorar.
     Uma voz conhecida? Quem é?
     — Olhai para mim e olhai bem. Tu Saberás quem é.
     Ao clareio da vista me arrependo. Que cena mais descarnada que essa hás de mostrar-me? Defuntos aos milhares, nus, alguns mutilados dos seus membros num cenário cinza e sujo que abriga apenas 2 almas vivas  — Se é que este sujeito está vivo e eu mesmo tenha alma ainda —. O homem estava sentado num trono feito com os próprios corpos do lugar, usava um manto preto e sua face era encoberta pelas sombras.
     — Assustado? Ficará ainda mais quando souber o que é tudo isto e se perderá no seu próprio mundo.
     Como ele pode saber o que estou pensando? Eu não disse uma palavra até agora.
     — Fácil, isto é por que eu sou você.
     Com um pequeno movimento ele retira o capuz. Terrível, mas belo ao mesmo tempo aquele meu eu antigo em toda a sua glória, quando não havia problema algum senão de não acordar muito tarde. O sorriso malévolo na minha própria face era difícil de se ver, um escárnio.
     — Tudo aqui és tu meu caro, ou melhor, é dentro de você, da sua alma. — Uma gargalhada gélida corta o ar e arrepia minha espinha — Esta é a parte da sua vida que seguiu adiante, os prédios são seus planos todos destruídos, as pessoas são os seus múltiplos destinos mortos e o sangue, ah o sangue! Seus sentimentos derramados por entre o mar da desilusão.
     Isso não pode estar acontecendo! Não pode ser eu, nunca me transformaria nisto.
     — Ah, sim. Olhe só o que fez consigo mesmo. Seus pais te desprezam tanto quanto qualquer coisa. Os amigos que há tanto ajudou agora riem pela sua costa e se puderem pisaram sobre tu. O amor que tanto procura se foi há muito e jamais voltará por que VOCÊ não foi digno de tê-lo. Tu Morrerás garoto, morrerás sim.
     NÃO. Impossível, impossível. Meu mundo caíra sobre mim e terminará nisto? Toda esta angústia e torpor não podem ser o fim. No âmago eu sinto uma pequena luz, uma esperança que me diz o contrário.
     — Não se apegue a uma coisa falsa como esperança.
     Uma sensação de alívio se espalha pelo corpo, a decisão já está tomada e me sinto confiante. EU LUTAREI FAZENDO OS SACRIFÍCIOS NECESSÁRIOS, VIVENDO E APENAS ISSO.
     — Se essa é sua decisão, então vá.
     Aquele mundo de perdição foi se desfazendo aos poucos, tudo virando poeira, desde as ruinas aos corpos. Estou sendo engolido ..

     (Branco) .. O ventilador gira e gira acima de mim em seu eterno trabalho e assim como minha vida, não sai do lugar. Deitado em algo que já não julgo como minha cama, mas sim um antro de perdição, pois nela eu penso, reflito e decido nunca tomar decisões e quando raramente tomo-as já se foi o pôr-do-sol vivente. Não vejo sentidos nas direções que tenho tomado e isso me inquieta, me atormenta pesadamente, porém vejo uma luz. Tudo pelo que passei dentro de minha alma foi um teste e obtive sucesso, derrotei a mim mesmo. Darei um novo sentido a minha vida, agarrarei o que me foi dado e farei o melhor que puder desta vez. A mudança começa por dentro não importa o tamanho do problema e disto sempre me lembrarei porque agora estou acordado.

 DLuppus

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